quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Penso naquele dia, naquele momento. As suas palavras tão carregadas de sentido e sentimento quando você disse adeus.

"E a gente vai se encontrar...
Não importa em que esquina eu me perca, em que viela eu me esqueça.
Na vida é assim, a gente encontra e desencontra... consigo e contigo.
Nunca foi tão breve meu caminho. Nunca foi, não, nunca.
Nos passos do tempo eu me entendo...
Não me espere. Quando a gente espera, a gente se desespera.
Desesperar nos dois sentidos. Naquele primeiro, da palavra em si: desesperar, enlouquecer, esvainecer; que traz angústia e medo. E aquele outro, quando desintegramos a palavra: des-esperar = não esperar
Então o próprio deseperar já nos diz que não é para esperar pois ele causa loucura, devaneios...
A desesperança, lembra?
A maré está alta e o vento está forte. E eles me levam hoje.
Por favor, não chore..."

As suas mãos, trêmulas, me tocavam o rosto. Um olhar vazio, é a única coisa que vejo.
E suas palavras vão perdendo o sentido da razão

"Não sinta medo. Eu não sinto. Alías eu não sinto mais nada. A esse mundo não pertenço mais.
E se insistir em ficar, vou me perder, perder a paz. Paz que eu insisto em encontrar.
A música diz: só precisamos respirar.
Me falta ar, num mundo cheio de O2 e CO2"

Sua voz já falha... E ninguém percebeu que atrás daquele sorriso escorria uma lágrima. E a lágrima era de sangue, a lágrima era do nosso sangue. Não azul, mas um vermelho forte, quase preto.
"O achincalhado palhaço que chora manchado de sangue." TARDIVO, R. Essa frase nunca fez tanto sentido como faz agora... Intensa, pesada!
Agora as lágrimas são minhas...

"Não chore. Não sinta medo. Nada mais preciso. Assim como o vento leva, o vento traz. Vejo você, agora de longe, estendendo uns lençóis no varal. Crianças, nossas crianças, brincando entre eles. Que risada gostosa!
É entre esses lençóis brancos, estendidos em área aberta, com a grama verde recém cortada e um céu azul, que acontecem os encontros, mesmo que não reais, mas subjetivos.
Num dia, quando você menos esperar, eu vou aparecer por entre esses lençóis... porque a gente vai se encontrar."

Você se foi, mais cedo do que nunca. Te espero? Não sei, mais ainda sim me desespero! O tempo fechou, mas mesmo assim há lençóis no varal todos os dias.