Os ombros suportam o mundo

sábado, 19 de abril de 2008

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

Unknown disse...

Oiii migaaa bakaaaa

muito lindo , nossa me surpreendeu hauhuahua ah desculpa se eu escrever algo errado hauhua ebaaaaa sou a primeira a comentar !!!
Miga ,voce nunca esta sozinha , voce tem agente eu e a Danny , no fim agente acaba sempre juntas comendo chocolate e tomando smirnoff , como voce mesma diz as amizades verdadeiras são as que ficam .

amo voce bakaaaaaaaaa!!!

Sereníssi*mah* disse...

Não há como fugir.
Estamos aqui e o que se deve fazer é encarar a realidade!

É incrível como você conseguiu relacionar (não sei se foi esta a intenção) Drummond com o que você estava sentindo, os significados- significantes desta poesia dele têm muito a ver com o seu "Lembranças", e sim...

Ninguém disse que viver é fácil!

**Beijão, miga! ; )