quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dia das mães

Durmo com a certeza que te tenho em meu ventre...
Sinto-te tão internamente.
Quero te proteger, então me encolho e te envolvo em meus contornos.
Te olho e meus olhos se enchem de lágrimas, quero te tocar, hesito. Não consigo, e por que não?
Logo eu que nunca te quis, na verdade ainda não quero, então talvez seja por isso. Agora é você quem olha, e nada mais importa, te tenho em meus braços. E sinto que você foi o que eu sempre esperei.
É você pequena, é você que completa meu vazio. Eu, sujeito faltante, você, objeto de desejo, meu grande outro. Para você, sou eu seu grande outro, quem te completa. Somos um só.
A dor nos braços da perda do filho, de tanto esticá-lo para alcança-te, te procuro, mas não te encontro.
Dizem-me:
- Não percebe? Ele já foi muito antes de ter chegado.
Outros
- Não vê? Ele não existe mais, virou pó.
Quando foi que te tiraram de mim, quando foi que te perdi? Foi na imensidão da vida, por entre meus dedos ou num piscar de olhos?
É difícil falar do que não se tem, mas mais difícil é sentir o que não existe. É inaceitável saber que não passou de um sonho. E que jamais vou poder te envolver nos braços, preencher todo espaço, e meu vazio.
Choro calada. As lágrimas escorrem pelo meu rosto de expressão vazia, antes tomado pela calma e alegria ao ver seus movimentos desajeitados e seu sorriso.
Deito, encolhida, com os joelhos em meu queixo, banhada em lágrima e sangue, e ainda te sinto.
Acordo com a tristeza de um ventre murcho e de braços vazios.





13 comentários:

Ana disse...

Fiquei sem palavras e emocionada.

Lembrei de uma amiga que engravidou sem querer e perdeu, sem querer. Esse teria sido seu primeiro dia das mães.

De todos os planos que temos que abrir mão por conta da vida, acho que filhos é o mais dificil de todos.

:(

Ana disse...

Sem sombra de dúvidas adorei o texto, apesar de triste!

Também acredito que não abriria mão de um filho, até porque é um dos meus maiores objetivos na vida. Mas a gente nunca sabe o que está reservado para nós, não é verdade??

Bjs

Fernando disse...

lindo e muito visual. Triste, sim, mas depende da leitura que se faz. Não sei se muito viajei, mas consigo ver um destino e não necessariamente uma perda física ou metafisica.

Depende. O que não depende é a beleza das palavras. Adorei.

bjo

Fernando disse...

uma visão mais abstrata... de certa forma continua sendo perda, mas uma perda totalmente imaginada, e não real. E assim sendo, se aplica a qualquer coisa, e não necessariamente ao filho. Pensando assim: o filho é a metafora máxima da perda, ou seja, tudo que tenha um grande valor pode ser representado assim na hora em que se perde.

confuso? rs... eu nao to conseguindo me expressar direito, mas acho que vc entendeu o q eu quis dizer.

Beijos

Persinho disse...

Pedes para eu comentar. Comentar o que?? O relato sincero daquele que inspirado se encontra para com palavras definir um vazio incerto. não há como ser comentado, merece apenas ser lido.. ou ouvido á voz daquele que recita sua dor..

dificil apenas imaginar que dentro de tão doce coração.. guarda-se tais sentimentos.. a mim apenas resta me pôr a ler e a ouvir.. desejando na verdade sentir o inverso do dito.. que seria apenas a alegria que deveria brotar de seu sorriso..

e tenho dito..

Ana disse...

Olá querida,
O texto na verdade são duas músicas do Chico...A em itálico chama "Com açúcar, com afeto" e a normal é "Valsinha"...A letra da Valsinha está inteira...a outra está "editada". hehehe
Vale a pena ouvir. Adoro o Chico, mas a Fernanda Takai regravou a com açúcar com afeto e ficou bem legal tb!
Bjs

Ana disse...

Adoro a música tb. O trabalho era sobre o quê??

Estou louca pra ver o filme! Tenho certeza que é sensacional...

Cadê seus textos???

Bjs

Sereníssi*mah* disse...

[suspiro] ao ler este teu texto tive a sensação de que estar perdida em alto mar num dia de tempestade. A relação com o "filho" é marcada por um vai-e-vem tão louco que dá margens a várias interpretações: um aborto natural, um aborto induzido, uma mãe que perdeu o filho com poucos dias de vida ou uma mãe que perdeu o filho apenas, ou ainda um filho imaginado... e pra piração ficar maior ainda, mais uma interpretação possível: esse filho pode nem ser um filho de fato. Metáfora, como disse o Fernando. O filho, ou melhor, o falo pode estar representado por qualquer objeto.
Enfim, seu texto ilustra (brilhantemente, por sinal) não apenas uma perda, uma falta, mas a insatisfação, a incerteza.
Ter ou não ter o filho, ter ou não ter o falo? Eis a grande questão que nunca será respondida!
(Um de seus textos mai inspirados e inspiradores, brilhante!)

P.s.: Demorei, mas comentei! Saiu "No capricho" ; )

Sereníssi*mah* disse...

quanto ao seu comentário no blog do Renato, acho que vc não entendeu:
Os braços de que falei são os braços do destino, Helô!

Sereníssi*mah* disse...

Amiga, você tem que aprender que eu não metaforizo coisas sérias, se eu falei que era grande, eu quis dizer grande, grande mesmo, não médio!
huahuahua
(isso ficou estranho, enfim...)
a primeira frase é do Chorão do CBJR "se viver requer coragem..."
A segunda é o refrão da música "Muitos choram" do Rosa de Saron! ; )

Ana disse...

Particularmente detesto livros de autoajuda..me irrito mais ainda quando os vejo na mesma prateleira que os de psicologia- e isso é cada vez mais comum.
Mas, há quem confie, quem acredite e quem atribua a eles uma melhora..e o que importa mesmo nessa vida, é ser feliz, não é?! Então que cada um encontre a sua...só cabe a nós, que escolhemos como profissão o auxilio ao próximo, fazermos o nosso melhor, lembrando sempre que quem sabe o que é melhor pra si é a própria pessoa!
=)
Cadê seus textos????
Bjão

renato disse...

muito bonito mesmo. mas já te disse, né?

Ana disse...

É querida, sou suspeita para falar do Cazuza...
Mas fique tranquila, você já escreve MUITO bem!!
Bjão